Pacientes que tentam se matar, muitas vezes, (mostram indícios), se despedem, pessoalmente ou virtualmente. Deixam bilhetes, mensagens, buscam pessoas que não viam há algum tempo. Organizam papéis e documentos. Doam objetos e pertences. Resumindo, se despedem de alguma maneira. Nem sempre é percebido. Nem sempre é visto. Nem sempre é claro.
Percebo, no consultório, em Passo Fundo – RS, onde o suicídio tem aumentado muito, que esse processo é mais do que despedida. Na verdade é uma oportunidade de ver se alguma pessoa nota, e lhe salva a tempo. Ninguém quer morrer de verdade. As pessoas querem é parar uma dor que não suportam mais. Nessas horas, um abraço, um olhar amigo, uma conversa aberta pode salvar uma vida.
Fatores de “risco”:
Abuso físico;
Abuso sexual;
Bullying;
Perdas recentes;
Separações;
Demissões;
Crises financeiras;
Humilhações;
Tudo isso pode desencadear na pessoa a vontade de morrer para se livrar do sofrimento, da dor de estar se sentindo numa situação sem saída, embora para quem esteja de “fora” a circunstância seja algo do cotidiano (algo momentâneo).
Com a psicoterapia e o tratamento apropriado, geralmente ocorre a melhora, porém quando a tristeza e a agonia dão lugar a uma acelerada melhora, fique alerta, pois é aí que mora o perigo e muitos suicídios ocorrem, porque o debilitado não tem forças nem para se matar, no entanto quando melhora, tem. E esse é o cuidado que deve-se ter, nunca o deixando sozinho.
Suicídios não vêm de uma hora para a outra. Eles vêm escrevendo uma história, que nem sempre a gente consegue ler. Como por exemplo: “Eu não aguento mais.”, “Eu quero sumir.”, “Dormir e não acordar mais.” “Ir embora numa viagem sem volta.” “Não quero mais dar trabalho.” “Não tenho saída.” “Eu não queria ter nascido.” “É melhor mesmo eu morrer.”
Nunca pensem que isso é só para chamar a atenção ou para aparecer, pois não é bem assim que funciona. Vamos encarar a questão suicídio de frente. Vamos falar a respeito.
Dialogar sobre é uma boa saída, sem ficar discursando sobre tudo que a pessoa tem de bom ao seu redor ou dizendo que a pessoa está sendo ingrata por não ser feliz com o que tem. (Isso não ajuda, pelo contrário, piora a situação). Um ouvido atento e paciente ajuda mais que uma boca inquieta.
Faz-se necessário pensar e falar sobre a questão – suicídio. Somente assim podemos ajudar “parar de matar” quem a gente ama. Porque a solidão de quem pensa em morrer é espantosa. E nosso silêncio é desumano.